segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Contraditório

(foto de Marcelo Figueiredo)
Igor/Carine/Carolina



Entrando no capitalismo pela porta dos fundos

Os índios, primeiros habitantes de nossas terras, os donos dela. Eles foram usados pelos colonizadores. Saqueados de suas riquezas, impedidos de sua liberdade, dizimados por crueldade dos seus colonizadores. Não reconhecidos pela população, hoje de maioria não-índio, de seu valor na sociedade e de nossa dívida para com esse povo.

Por muito tempo os índios são considerados brasileiros de segunda ordem, isto quando muito. Sofrem preconceito e falta de oportunidades e muitas vezes o desprezo da sociedade.

Explorados no início da colonização, aculturados e catequizados durante este mesmo processo, ignorados, e só receberam alguma menção na década de 20 do século passado quando o movimento modernista decidiu por torná-lo herói numa busca pela identidade nacional.

Porém o herói, o cavaleiro medieval vestido de penas, não recebeu a gratificação necessária da sociedade. Só voltaram a chamar a atenção quando estavam quase extintos pelas condições subumanas da marginalização, fome e doenças as quais estavam expostos.

Somente assim o Estado resolveu estabelecer tutela sobre esta parcela da população colocando-os em reservas. Estas reservas seriam localizadas em terras da União que, a partir de estudos, estaria próximo ás raízes das tribos a serem protegidas. Nestas terras, os índios deveriam ter condições de se desenvolver e praticar sua cultura original sem interferência do homem branco. Viver em seu estágio natural isolado.

O problema é que a cultura indígena está atrelada á floresta, e nem todas as reservas possuem mata para que os índios possam tiram dela tudo que necessita. Outro problema é que os índios brasileiros, na sua grande maioria eram nômades, como fixá-los em uma porção de terra apenas?

No caso específico dos guarani, não só as dificuldades em se manter na reserva, mas há também um problema de ordem religiosa. Existe uma cultura de buscar a “terra sem males”, o que pode explicar parte do processo migratório deste povo.

A vida nas reservas não é fácil. A Funai dispõe de muito poucos recursos para manter os índios. Apesar de receberem assistência médica (Fundação Nacional da Saúde – Funasa), e sementes para o plantio, isso não é suficiente para manter os indígenas.

Numa releitura dos papéis sociais desempenhados, os índios vêm aos grandes centros comercializar seu artesanato, sua forma de expressão artística. Cerâmica, cestos de palha, animais entalhados. Em épocas de efervescência no comércio (próximo a datas comemorativas comerciais) os indígenas se dirigem aos centros urbanos próximos.

Numa situação de quase mendicância, sentados no chão com seus produtos expostos, sem lugar específico para pernoitarem, contando com a boa-ação da população, os índios se submetem para conseguir sobreviver. Apesar disto, para a índia guarani Fermina de 23 anos, a cidade é melhor que a reserva.

A explicação para isso, segundo o professor André Soares, é que a cidade encanta o índio. É preciso ressaltar que não devemos olhar o índio com o olhar ocidental, e nem esperar que o índio veja o “nosso mundo” com uma visão ocidentalizada. A cultura do trabalho que nós temos não é compartilhada pelos índios. Eles se iludem que, como vêem na cidade as pessoas bem vestidas, e aparatos eletrônicos, entre outros, será fácil conseguir chegar a este status.

Eles vêm vender seu artesanato, que hoje atende mais a demanda dos compradores, onde são feitos objetos que não fazem parte da cultura guarani, ou cestos tingidos de cores que não são encontradas na floresta. A venda de sua arte tornou-se uma tentativa de inserir-se no capitalismo que rege o “mundo branco”. Porém o processo de entrada neste mundo é feita pela “porta dos fundos”. Comércio ambulantes, baixo valor agregado das mercadorias e todos os fatores que levam o índio a ser marginalizado pela sociedade.

Inserir o índio no contexto da sociedade atual ou resguarda-lo nas reservas e garantir que o índio não tenha mais contanto com o mundo ocidental, garantindo que volte ao seu modo de vida original? Não é possível responder a esta pergunta sem uma grande discussão envolvendo todas as parcelas da sociedade. Uma coisa é certa, os índios não são mais os mesmo, mas continuam índios. O processo de interação com outras culturas lhes trouxe coisas novas. Algumas positivas, outras negativas.

Seria o equivalente ao processo de globalização que enfrentamos se por um lado temos contato com outras culturas e somos influenciados por elas, por outro nos esforçamos para manter nossas tradições e hábitos, ás vezes até fortalecendo nossos laços com eles, visando manter nossa identidade.

2 comentários:

Paulo Vilmar disse...

Carulina!
Belíssimo post! Creio, o maior problema da política indígena está exatamente na FUNAI. Demarca-se terras, cria-se reservas com milhares de hectares, mas, como no caso dos sem terras, não cria-se uma política de fomento para fixação do homem à terra. Sem políticas de incentivo, os índios não se inserem no mercado, assim não produzem, não estou falando de produzirem igual a cultura judaico-cristã-ocidental, mas de formas alternativas que realmente fizessem valer a reserva, para a preservação de uma cultura. Estamos simplesmente destruindo uma cultura, ainda viva, e criando uma nova classe de mendigos!
Beijos.

OS Z ETES disse...

Bacana esse post!
Nossa...o capitlismo acha mesmo que pode dar jeito em tudo, né?
A cultura não se compra, a tradição não se vende. É algo inerente do cidadão.
Que as mudanças são inevitáveis, isso são!
Mas daí a forçar uma mudança a mais é covardia com o povo e ainda mais... um desrespeito a cultura!