segunda-feira, junho 23, 2008

Capuz negro - A imprensa de joelhos

Vladimir Herzog jornalista, judeu e comunista. Seus amigos e companheiros de profissão atribuem mais qualidades a Vlado. Um homem integro, ético extremamente artístico com paixão pelo teatro e cinema. “Um excelente documentarista e anos luz a frente no pensamento político” segundo Fernando Birri, cineasta argentino. Quando criança, sempre quieto, carregava o seu livrinho embaixo do braço – Dostoievski. A liberdade pensava ele, era a possibilidade da sociedade saber o que a ditadura escondia, poder contestá-la. A cultura encapuzada, o Brasil amarrado na “cadeira do Dragão”. O mínimo que Vlado poderia fazer era tentar arrancar o capuz e a venda da sociedade. E fez o que podia.

Vlado nasceu em 1937 na Iugoslávia, filho de judeus Zigmund e Zora Herzog. A família foge do nazismo e se refugia em uma pequena cidade da Itália. Formado pela USP começa a trabalhar em importantes jornais do Brasil. Em 1964 vai à Londres estudar televisão na BBC. Volta ao Brasil quando AI-5 é instruído. Se estava sofrendo a pior fase da ditadura. Na década de 70 assumi a direção de jornalismo da TV Cultura em São Paulo.

Para o diretor da TV Cultura – emissora estatal. O Brasil sempre foi mostrado com olhos críticos. A equipe de jornalismo sempre se preocupou em manter o governo longe da programação e do conteúdo da emissora.

Ou você compartilha do governo ou você é comunista. A extrema censura em que passava o Brasil podem ser vistos nos documentos da época do regime. Aproximadamente 1 milhão de fichas contendo dossiê de cidadãos, segundo o exército, subversivos e perigosos para a paz nacional. A ditadura tomava o cuidado de que a censura aos veículos de comunicação não ficasse evidente. As advertências e proibições eram feitas verbalmente. Este ato contribuía para que não existissem provas de quanto o exército regulava as noticias e assegurava a venda nos olhos da população. Entre estas fichas, estava a de Vlado.

A coluna de Cláudio Marques, “Comunistas tomam a TV Cultura”,no extinto Shopping News se referia a Vlado. As seguidas notas de Cláudio contribuíram para a prisão do jornalista. Daí adiante acontece a caçada aos jornalistas George Duque Estrada, Rodolfo Konder entre outros. Vlado é levado preso no dia 25 de Outubro de 1975 acusado de ligações com o PCB (Partido Comunista Brasileiro) e de ser agente da KGB.

“A cadeira do Dragão” onde a pessoa era amarrada com o capuz e levava choques elétricos, durante 1 ou 2 horas, em todos as partes do corpo, incluindo as genitálias, foram o que passaram, não só os jornalistas presos, não só Vlado, mas muitos brasileiros. A tortura escondida com o seu capuz negro e com as amarras da ignorância deixou os brasileiros de joelhos.

Vlado morreu no mesmo dia em que foi preso. Choros e gritos deram lugar aos sons dos pássaros. A versão do exército afirmou que o jornalista suicidou-se com um cinto. “Encontrado morto, enforcado, tendo para tanto utilizado uma tira de pano". Posteriormente Clarice Herzog, viúva do jornalista, moveu um processo contra a União pelo assassinato de Vlado. Em outubro de 1978, a Justiça Federal responsabilizou e condenou a União a indenizar a família.

Após 33 anos da morte de Vladimir Herzog o que se pode aprender? Nada...Vlado foi esquecido. Esquecido por futuros jornalistas, que hoje, estão com o capuz negro da mediocridade e da superficialidade. E pior, não foi colocado por ninguém

Um comentário:

Paulo Vilmar disse...

Carol!
Belíssimo post!
É desta forma, lembrando sempre, que a morte de Vlado não terá sido em vão! Enquanto um estudante de Jornalismo for capaz, não só de conhecer, mas de se indignar com sua morte, não teremos capuz negro a vedar nossas consciências. Parabéns...
Beijos.